“Eu bem te disse” (Revisitado)
Quando em 2017 os resultados das Eleições Autárquicas no Concelho da Moita ditaram os resultados que levariam à perda da maioria absoluta por parte da CDU era óbvio que este partido teria de proceder a um jogo de equilíbrio que lhe permitisse continuar com peso maioritário na gestão autárquica.
Quando esta geometria foi publicamente conhecida, foi fácil perceber quem iria ser o “andaime” que garantiria a maioria no executivo camarário. Apesar de nos dias de hoje o Vereador do PSD o negar, era fácil perceber quem é que iria ser o “quinto elemento” da CDU na Câmara Municipal.
Fê-lo da forma que hoje todos conhecemos como instituída, convidando para o parceiro “natural” o PSD a quem entregou o pelouro das Actividades Económicas, um pelouro a tempo inteiro (facto que não é despiciendo) e dois meios tempos, um ao PS (Serviço Municipal de Proteção Civil) e outro ao Bloco de Esquerda (Rede de Balcões do Munícipe).
Quando esta geometria foi publicamente conhecida, foi fácil perceber quem iria ser o “andaime” que garantiria a maioria no executivo camarário. Apesar de nos dias de hoje (e em boa verdade, desde sempre, o Vereador do PSD o negar, era fácil perceber quem é que iria ser o “quinto elemento” da CDU na Câmara Municipal.
Aliás, mais do que negar, o Vereador do PSD Moita tem (a meu ver de forma delirante) tentado fazer passar a mensagem de que mais do que aliado é adversário. E se isto já hilariante para o comum observador de ideologias, basta ver o que ainda há pouco tempo escreveu publicamente Luís Nascimento sobre este tema:

Mas já analisaremos este pequeno (grande) delírio e centremo-nos no essencial da geometria de poder desenhado pela CDU para esta conjuntura. Primeiro garantir o voto decisivo do seu conjunto de eleitos garantindo um lugar ao PSD e em segundo lugar tentar refrear a Oposição com dois “meios lugares.
Mandará a verdade que dentro dos órgãos locais do Partido Socialista que analisaram este convite do Presidente eleito, fui o único elemento que se opôs com frontalidade à aceitação do cargo por parte do Partido Socialista local. A minha tese de fundamento deste voto foi precisamente a de que o Pelouro seria basicamente “vazio” de meios e recursos, que poderia hipoteticamente ser eleitoralmente mais pernicioso do que vantajoso, sobretudo no caso de alguma coisa vir a correr deveras mal no âmbito social da temática de Proteção Civil, (situação em que potencialmente estamos à data em que escrevo) e que o Partido Socialista iria com toda a certeza em alguns momentos ficar “refém” da sua participação no Executivo camarário mercê desta integração.
Pese embora o profissionalismo com que o Vereador do Partido Socialista enfrentou o desafio da Proteção Civil na Moita, os tempos vieram demonstrar que os meus receios iniciais a respeito da capacidade operacional não eram assim tão infundados.
O tempo encarregar-se-ia de me desmentir parcialmente os receios do “Síndrome de Estocolmo”, mas não me desmentiu no que aos parcos recursos da Proteção Civil diria respeito. Estrutural e operacionalmente fraca, sem meios humanos, com um orçamento básico que ao primeiro “espirro” se revelaria insuficiente. Pese embora o profissionalismo com que o Vereador do Partido Socialista enfrentou o desafio da Proteção Civil na Moita, os tempos vieram demonstrar que os meus receios iniciais a respeito da capacidade operacional não eram assim tão infundados.
E foi precisamente pelo desenrolar dos acontecimentos da Covid-19, que claramente empurrou o executivo para a adopção de medidas extraordinárias, ainda que a contra-gosto (algumas dessas medidas foram inclusivamente designadas por “folclore” por parte de responsáveis CDU (o mesmo “folclore” que hoje Presidentes de Junta do Concelho fazem nas suas comunicações “implorando” às pessoas que permaneçam em casa…). Aquilo que antes era designado por “publicidade” ao trabalho da Oposição passou a ser “Comunicação” camarária. O que antes eram “fotografias para espalhar o medo”, passou a ser corriqueiro. Em quantas destas “comunicações” foi incluído o Vereador da Proteção Civil? Em quantas foi mostrado o seu trabalho? Zero. Ao contrário do sol, o “folclore” quando nasce não é para todos…
Uma coisa é certa, foi necessário um esforço apreciável de resiliência do Vereador do Partido Socialista para que houvesse alguma reação e visíveis alguns efeitos.

Entretanto o Serviço Municipal de Proteção Civil continuou a trabalhar. Foram, por esforço próprio do Vereador responsável, reforçados meios humanos, ganhou-se “músculo” operacional e começaram a ver-se ações concretas no terreno, assistindo-se também à escalada do aproveitamento na comunicação social, própria e alheia.

Visitas a lares com composição fotográfica, visitas à Corporação de Bombeiros, ofertas de equipamento de Proteção Individual, presumo que a procissão ainda vá no adro. Tente o leitor encontrar uma imagem da “Vereação” que grita a manchete do artigo. Para efeitos de comunicação a “Vereação” visível é a da CDU. A restante é pura e simplesmente ostracizada.
A única coisa visível nas imagens é o esvaziamento de protagonismo do Vereador responsável pelo Serviço Municipal de Proteção Civil. Uma verdadeira chatice isto do vírus…
Dos Vereadores alheios ao círculo CDU não há notícias, embora se perceba pela sua própria comunicação (que não a da Câmara a que pertencem) que estão a trabalhar nas suas áreas. No que à comunicação da Câmara da Moita diz respeito, são virtualmente inexistentes.
Lentamente, mas de forma bastante visível, o esvaziamento da imagem de cada um dos Vereadores não CDU está a ser feita. Não começou hoje. Mesmo o Vereador do PSD, que dá corpo à “maioria conjuntural”, já o sentiu, ao ver propostas da sua área serem levadas a decisão pela Presidência. E que se não pense que fossem propostas de extraordinária grandeza e importância que lhe justificassem a substituição enquanto proponente. É importante para o resultado final de votações, mas vê propostas da área do Turismo serem encabeçadas por outro membro.
Sei, por experiência, que ouvirei o Luís Nascimento dizer que é mentira, que não é aliado/suporte/garante do que quer que seja, mas a realidade desmente-o votação após votação. As “grandes batalhas” que diz travar com a Presidência (Cervantes não diria melhor…), não se traduzem em números. Quantas vezes votou desalinhado em relação à CDU? De memória não chegará a meia dúzia. A sujeição traduz-se nisto. Bem pode exercer a prédica se as ações não correspondem ao efeito “Frei Tomás”…
Poderá o leitor perguntar porque não refiro o Vereador do Bloco de Esquerda enquanto elemento activo na Oposição? Porque não tem qualquer relevo público. Porque de Oposição, como aos costumes, revela nada. À imagem do PSD, (que ainda assim comunica naquele jeito de prédica lírica a que nos habituou), o Bloco de Esquerda esperará que o vento sopre para carregar sobre os moinhos.