É gastar que a Ordem é rica

Há cerca de seis para sete anos, perante a confrangedora falta de informação e sinalética nos pontos de interesse turístico do Concelho da Moita, sugeri em Reunião de Câmara a inclusão de uma pequena placa que permitisse ao visitante ocasional, não apenas um mínimo de informação sobre o local, mas que através de um QR Code (uma ferramenta informática que permite redirecionar o visitante no momento para uma página onde pode estar diversa informação adicional que não seria possível ter na placa física).

Como é habitual no Executivo CDU quando não tem nada para dizer, ou quando é apanhado de surpresa por uma sugestão que não advém dos próprios, escutei um “Estamos a estudar o assunto…”. Seria interessante compilar quantas vezes “se estudaram assuntos” em respostas de reuniões camarárias (conto-os às dúzias, sobretudo por parte do Vereador Miguel Canudo), mas é uma muleta habitual. Em bom português, significa “Podes esperar sentado enquanto eu ignoro o que estás a dizer…”

A verdade é que aproximadamente sete anos depois, vi surgir um QR Code numa placa informativa. (Aquele quadrado preenchido com traços diversos a negro que vemos em tantos locais, chama-se QR Code e é uma evolução do universal Código de Barras e pode ser utilizado por praticamente qualquer smartphone dos nossos dias). E se é de saudar essa inclusão, depressa se desvanece a satisfação…

Se as possibilidades de acesso a conteúdos multimédia são inúmeras, o visitante é remetido para materiais que de tão pobres chegam a fazer perguntar “Porquê?”

Porque é que não se interligam estas páginas a conteúdos já existentes? Porque é que são tão pobres? Se se gastou dinheiro num Áudio-Guia de locais do Concelho, porque é que o visitante não é informado da existência deles na página para onde é remetido? É incompetência, incúria ou outra razão qualquer? Já levantei estas questões dos Áudio-guias, que seriam potenciais princípios de uma ferramenta muito interessante para o visitante que ao fim de semana não tem apoio do Posto de Turismo. “Estamos a estudar o assunto”.

Mais recentemente, verbas do Quadro Portugal 2020 (a tal Ordem rica que não questiona por aí além…) vieram permitir à Câmara Municipal da Moita a implantação de painéis interpretativos em vários locais turísticos do Concelho. A mim pessoalmente impressiona-me a quantidade de oportunidades que são autenticamente deitadas fora em cada operação deste tipo. Se se gasta dinheiro que seja aproveitado ao máximo, o que não é o caso.

Falaria horas deste tipo de painel interpretativo… Não apenas do painel, mas do que pretende “valorizar”. Conseguem visualizar o malfadado QR Code nele? Não, não conseguem, mais uma vez por uma razão inexplicável… Ao viajante ocasional que se lhe acerque, não se desperta a curiosidade em visitar o próximo ponto. Não porque não fosse fácil. Apenas por falta de discernimento ou visão de conjunto. E sendo vários pontos de interesse turístico, não se cria um circuito, criou-se ali um ponto isolado que não motiva a prosseguir. Só mesmo os “connaisseurs“, aqueles que tenham informação por outras vias, saberão da existência de mais pontos a visitar. Gastar dinheiro? Sim, venha ele de onde vier, mas com racionalidade e propósito.

Teria também bastante a dizer sobre a “valorização” de uma ruína. Faz anos que sugeri à Câmara da Moita a recuperação e instalação neste moinho de um Laboratório Escolar de Energias Renováveis. Na altura voluntariei-me para abrir algumas portas junto da maior empresa de energia do país que o pudesse patrocinar, pois veria com muito bons olhos a instalação de um pólo de estudo prático de energias renováveis patrocinado por esta. E não estamos a falar de milhões de euros, estamos a falar de uma recuperação e instalação de algo que pura e simplesmente não existe na Península de Setúbal e que seria um factor de atração da Comunidade Escolar. Temos no Concelho uma Escola Profissional cujos professores e alunos não desdenhariam gerir um Laboratório vivo que fosse herdeiro de energia limpa e suas aplicações.

Foi absolutamente escusada a sugestão. Zero contactos. Zero iniciativa. Valorizemos assim uma ruína que poderia (e deveria) dar vida nova a um ícone industrial. Enquanto ela estiver de pé, o que não deverá suceder por muito mais anos…

Também me pergunto sobre outros detalhes, mas esses dou de barato, como a necessidade de comprar materiais para os painéis a uma empresa exterior com carpintaria naval no Concelho… (Ainda não vi o painel do Estaleiro de Mestre Jaime, apenas espero em jubilosa esperança que não seja metálico…).

O meu lamento da perda de oportunidade relativamente a painéis de interpretação, falta de consistência de informação e possibilidades de interligação a TODOS os outros, estejam eles onde estiverem ou vierem a estar, é actual e vai a tempo de ser corrigido em futuras afixações e/ou renovações. Já me pronunciei sobre aspectos que podem efectivamente ser corrigidos e melhorados e muito oportunamente levarei esta questão a Reunião de Câmara enquanto cidadão deste Concelho. Provavelmente escutarei um “Estamos a estudar o assunto”…