Sobre o autor

Pedro Aniceto nasceu a 3 de Abril de 1964 em Lisboa na Maternidade Magalhães Coutinho, que por coincidência (ou não), encerrou as suas portas pouco depois. Nasceu de parto normal, mas não teve alta clínica imediata, porque, segundo o corpo médico, “faltariam uns acabamentos”. Diz o próprio que talvez o mundo não estivesse pronto para o receber, mas quem realmente sabia dessas razões limitou-se a exclamar “Deus nos livre se este gajo vai assim lá para fora!”…

Frequentou a Escola Masculina Nº 37 de Lisboa, que incrivelmente (ou não) encerraria alguns anos depois para renascer como Universidade Luís de Camões. Ele há coincidências!…

Desde muito novo que se interessou pelo Movimento Escotista e ingressou aos sete anos no Grupo Nº7 da Associação dos Escoteiros de Portugal, em Lisboa, Grupo que não fechou ainda as respectivas portas. Viveu intensamente o Movimento durante treze anos em variados graus da hierarquia do Movimento. “Foi uma experiência de valor incalculável em termos de experiência de vida”, diz o próprio, mas as Chefias, quando perguntadas, limitam-se a exclamar “Tirem-me este gajo daqui!“.

Com a idade de catorze anos ingressou no Sport Lisboa e Benfica disposto a praticar uma modalidade qualquer, “de preferência atletismo para ver se deixo de ser tão magrinho…

Com a idade de catorze anos ingressou no Sport Lisboa e Benfica disposto a praticar uma modalidade qualquer, “de preferência atletismo para ver se deixo de ser tão magrinho…”. Não consegue com isso explicar totalmente a razão da escolha clubística mas “o Sporting tinha um Aniceto Simões que no atletismo nunca ganhava nada a ninguém e desgraçava-me a reputação

Devido a ser muito distraído (hábito do qual nunca se conseguiu libertar…) não percebe que houve uma infeliz troca de indicações do local do primeiro treino e foi juntar-se a uma equipa de atletas que fazia o aquecimento para um treino de Basquetebol. Uma hora depois de ter iniciado esse treino ainda se interrogava “porque razão um treino de atletismo é feito num pavilhão cheio de gente com mais de um metro e oitenta?”.

Recordará para sempre como deveras sábias as palavras de um treinador, que finda a sessão de esforçado apuro desportivo lhe disse: “Você devia pensar em treinar atletismo!”. Assim fez. Dois anos e meio de fundo e meio-fundo passados a subir e a descer encostas na mata de Monsanto e centenas e centenas de voltas a uma pista de tartan serviram-lhe de emenda e concluiu a sua curta carreira de desportista. O clube, esse, curiosamente não fecharia portas, e continua a ser o melhor e maior clube do mundo!

Foi educado segundo os mais rígidos princípios da religião católica; frequenta a Igreja de Santa Marta em Lisboa, edificação que foi demolida sete anos depois do seu baptismo cristão, levado a efeito em 1964. O oficiante da cerimónia, D. Qualquer Coisa do Nascimento foi posteriormente nomeado Bispo em Angola, o que não sendo verdadeiramente curioso, não deixa de ser deveras preocupante…

A cerimónia de baptismo, facto que não é por norma memorável para a maioria das pessoas, é ainda hoje recordada no seu círculo familiar como “O grande berreiro”, facto justificado por sua mãe que diz que “tudo se deveu a lamentável lapso com o alfinete de dama da fralda, pronto, deixa lá de falar nisso que já passaram muitos anos…”.

Desiludido profundamente com a sua relação com a Igreja, procura rapidamente outros ambientes. Torna-se um radical com múltiplos interesses culturais e dedica-se de alma e coração à leitura. Descobre Marx, Salgari, Baudelaire, Verne e Dumas (tudo ao mesmo tempo, que se é para a loucura, é para a loucura…), em paralelo com Dostoyevsky e a Crónica Feminina

Dotado de uma energia quase inesgotável e própria da idade, entrega-se a todas as actividades possíveis na órbita da igreja da sua paróquia. Na opinião do pároco local “é dotado de uma entrega generosa”, mas no fundo são as juvenis hormonas que o fazem efectivamente mover-se. Fez carreira efémera no Coro paroquial da Igreja do Coração de Jesus, (igreja que ainda não foi demolida!), no Grupo de Jovens e até no Grupo de Acólitos do Padre Manuel Maria e noutras actividades de carácter religioso. Este Padre que define os seus grupos como “um grupo extraordinário de jovens” é contrariado pelo biografado como sendo “um grupo de corrécios da pior espécie, cada um mais jeitoso que o anterior…”.

Profundamente desiludido na sua relação filosófica com a Igreja, procura rapidamente outros ambientes. Torna-se um radical com múltiplos interesses culturais e dedica-se de alma e coração à leitura. Descobre Marx, Salgari, Baudelaire, Verne e Dumas (tudo ao mesmo tempo, que se é para a loucura, é para a loucura…), em paralelo com Dostoyevsky, Trotsky e a Crónica Feminina. Adopta dúzias de hobbies: Química, da qual desiste precocemente por imposição familiar, depois daquilo que considera “meros acidentes de laboratório” mas que o seu pai categorizou como “Um dia destes queimas-me a casa meu grande malandro!“, electrónica, filatelia, numismática, rádio-amadorismo, música, poesia, prosa e muitas outras de que não guarda sequer uma singela memória, mas que de certeza à semelhança das paixões, foram muito boas enquanto duraram.

Contra a sua própria vontade ingressa na Escola Industrial Machado de Castro num curso de Mecanotecnia onde é confrontado com a necessidade de “aprender um ofício”, coisa da qual quis fugir a sete pés quando percebeu que iria ser obrigado a aprender “o domínio da arte da limagem do ferro”, ou, na sua singela opinião “aquela merda que nunca mais fica à esquadria”. Faz “os mínimos necessários à sobrevivência escolar”, “uma porcaria de notas” segundo os progenitores e o estabelecimento de ensino é encerrado sete anos depois de por lá ter passado, tendo acabado os seus dias como estúdio da Operação Triunfo, o que se não é muito bem feita, não sei o que lhe chamar…

 No Verão de 1979 toma uma decisão de fundo na sua vida e terminadas as lides escolares desse ano inicia a busca daquilo que considera ser uma ambição legítima: “Um emprego temporário que lhe permita aumentar os rendimentos mas que seja ao mesmo tempo uma actividade digna, de preferência sem ter que transpirar muito”.

Vive o Verão Quente de 1975 e os tempos heróicos do PREC em plena crista da onda revolucionária. Por viver em pleno Marquês de Pombal vai a todas as manifestações que por lá passam (e não foram poucas). Não falha uma RGA (Reunião Geral de Alunos). Não sabe ainda muito bem o que lá faz “mas isto é giro e há que partir os dentes à reacção!”. É nesta fase que a realidade da vida lhe chama a atenção, pois é apanhado a fazer pinturas murais no emprego do seu pai (do lado de dentro do prédio…) e tem de justificar ter apelidado de nazi o coitado do Sr. Urbano que até era boa pessoa, mas que era o único patrão que o biografado tinha ali à mão de semear…

Anula as suas militâncias revolucionárias, quase todas terminadas em “ista”, desliga-se do sonho de mudar o mundo sozinho e de bolsos vazios. No Verão de 1979 toma uma decisão de fundo na sua vida e terminadas as lides escolares desse ano inicia a busca daquilo que considera ser uma ambição legítima: “Um emprego temporário que lhe permitisse aumentar os rendimentos mas que fosse ao mesmo tempo uma actividade digna, de preferência sem ter que transpirar muito”.

Com escassíssimos contactos no mercado de trabalho, envereda por buscas esforçadas nos anúncios de emprego dos jornais dominicais, buscas essas que não surtem grande efeito. Iniciará contudo o Verão desse ano a trabalhar no Pavilhão de Tiro “A Luminosa” na Feira Popular de Lisboa com a exigente e perigosa missão de carregar as espingardas de chumbos aos clientes, uma actividade “em que de facto não se transpirava por aí além”. Ainda hoje esse emprego não é recordado com orgulho no círculo familiar e é frequentemente omitido pelo próprio no seu Curriculum Vitae.

Decidido a trabalhar, transita para o ensino nocturno na Escola Secundária Dona Maria I (não são necessários dotes de vidente para saber o que aconteceu a esse estabelecimento de ensino alguns anos depois…), onde abraça o Curso Complementar de Secretariado e Relações Públicas. Detesta-o, principalmente a cadeira de Organização e Métodos. Apesar disso conclui o referido curso, mas ainda hoje tem pesadelos quando se revê a aprender Estenodactilografia.

Um ano mais tarde, desiludido com a profunda monotonia do cor-de-rosa dos cartões perfurados, tenta fugir de Sud Express para Paris onde sobreviveu como pirata informático ensinando a nobre arte na FNAC Les Halles, o que consegue (fugir e ensinar), mas regressará a Portugal quatro semanas depois sem que aparentemente alguém tivesse dado pela sua falta

Em 1980 reuniu a curta assembleia familiar e com um ar grave e sério informou da decisão de aceitar emprego numa empresa de informática, decisão que à data muito consterna os seus familiares. “Esses tipos dos computadores são gente muito estranha”, disse-lhe a sua mãe, uma frase que não levou muito tempo até poder confirmar pessoalmente. Teimoso, nem nada nem ninguém o consegue demover de prosseguir o intento. Realiza, à segunda tentativa, uma entrevista de emprego que na óptica do candidato foi um sucesso. “O empregador falava que se desunhava e eu quase não abri a boca”. A resposta que mais vezes forneceu foi a palavra “Sim!” e foi isso mesmo que respondeu à pergunta “Tens alguns conhecimentos de hexadecimal?”. Lembra-se de ter pensado “Vá você!”, mas não passou de um pensamento vadio que depressa se desvaneceu quando se viu admitido e o patrão lhe comunicou que “vais começar por baixo”.

Fê-lo, literalmente, pois foi trabalhar para a cave do prédio da empresa, aos comandos de uma perfuradora de cartões Bull que se desfazia sistematicamente de cada vez que era accionada. Um ano mais tarde, desiludido com a profunda monotonia do cor-de-rosa dos cartões perfurados, tenta fugir de Sud Express para Paris onde sobreviveu como pirata informático ensinando a nobre arte na FNAC Les Halles, o que consegue (fugir e ensinar), mas regressará a Portugal quatro semanas depois sem que aparentemente alguém tivesse dado pela sua falta. Com algumas saudades da sua cama, lembra-se de ter ficado em estado de choque quando a sua mãe lhe perguntou apenas: “Ficas para jantar?

Continua a ir ao estrangeiro (de onde regressa sempre), continua a ter vontade de fugir (talvez mais do que nunca), mas agora está mais gordo e tem mais dificuldade em mexer-se. Abriu um site, faz um Podcast com mais dois indivíduos (que dá muito menos trabalho que fazê-lo a solo) e faz por sobreviver.

Actualmente tem como profissão stripper num clube gay onde actua todos os dias úteis.
(Mentira, é Consultor de informática, mas tem vergonha de contar…)